3 de outubro de 2009

Relatório da ONU diz que Irã tem informação para fazer bomba nuclear


Um relatório realizado por membros da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, aponta que o Irã tem "informação suficiente para desenhar e produzir" uma bomba atômica, informa reportagem do jornal americano "The News York Times".
As conclusões do relatório, afirma o "NYT", colocam o Irã como uma ameaça maior do que o especulado pela comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos. O relatório destaca, contudo, que as conclusões são provisórios e precisam de confirmação de evidências de agências de inteligência.

O relatório chega pouco depois da revelação de que o Irã construiu uma nova usina de enriquecimento de urânio e do anúncio de testes de mísseis de longo alcance pela República Islâmica. O anúncio da planta foi feito quando carta do Irã à AIEA vazou na imprensa. O único dado técnico divulgado é que o nível de enriquecimento de urânio seria de até 5%, condição que daria origem a um combustível pouco purificado, suficiente apenas para alimentar reatores nucleares de geração de eletricidade.

O Irã já possui uma grande usina de enriquecimento de urânio na localidade de Natanz, a 250 km de Teerã, na região central do país. A existência da usina foi revelada em 2002.
Há dois anos, as agências de inteligência americanas publicaram, um relatório detalhado no qual concluíam que Teerã abandonou os esforços de construção de uma arma nuclear em 2003.
Contudo, no começo de setembro, Glyn Davies, o principal enviado americano à AIEA, disse que o último relatório da agência nuclear mostra que Teerã já possui ou está muito perto de possuir suficiente urânio pouco enriquecido para produzir uma arma nuclear --caso seja tomada a decisão de enriquecê-lo ao nível necessário para a produção de armas.

O novo relatório da agência apresenta evidência de que o conhecimento iraniano é fruto não apenas de informações coletadas de especialistas em todo o mundo, como também de extensa pesquisa e testes. O documento não revela, contudo, quão longe as experiências chegaram na produção de uma bomba.

O relatório, intitulado "Possíveis Dimensões do Programa Nuclear do Irã", foi produzido, segundo o jornal, por especialistas de dentro e de fora da agência da ONU.


Saeed Jalili, o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e negociador chefe nuclear do país, conversa com a "Spiegel" sobre o programa nuclear iraniano, as perspectivas para as negociações desta semana em Genebra e por que o Irã não teme novas sanções.

Saeed Jalili é o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã


Spiegel: Senhor Jalili, o Ocidente está esperando uma concessão de Teerã na questão nuclear. Que ofertas de concessão o senhor levará às negociações com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha, que terão início na Suíça em 1º de outubro?Saeed Jalili: Em nome de Deus, o Misericordioso, me permita esclarecer isso - o problema das armas nucleares é uma preocupação compartilhada por toda a humanidade. Nós elaboramos um documento de posicionamento para as negociações, que também trata da questão nuclear.


Spiegel: Mas apenas de passagem, em apenas parte de uma sentença dentre um total de cinco páginas.

Jalili: Mas, para obtenção de verdadeiro progresso, entretanto, nós precisamos concordar nos princípios de Justiça, democracia e multilateralismo. Eu acredito que temos mais em comum em assuntos internacionais do que algumas pessoas imaginam, por exemplo, na luta contra o terrorismo, no Afeganistão. Certamente faria mais sentido se a Otan tivesse enviado tratores para lá em vez de tanques. Os terroristas não podem ser derrotados apenas por meio de um uso cada vez maior de força. A melhor chance de vencer a guerra contra o terror é por meio de ajuda para reconstrução civil.


Spiegel: Em seu documento de posicionamento vocês pedem uma "reorganização da Organização das Nações Unidas" e uma "gestão coletiva para os assuntos ambientais". Com o devido respeito, a negociação não trata desses assuntos - trata da bomba nuclear potencial do Irã.

Jalili: Você está estabelecendo as prioridades erradas. Não somos nós que somos o perigo, mas sim as outras potências que já possuem armas nucleares há muito tempo. Nós queremos que todas as potências nucleares se desarmem, como pede o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Nós estamos pedindo por um "Eixo de Negociações"...


Spiegel: ...uma clara alusão ao "Eixo do Mal" do ex-presidente americano, George W. Bush, que considerava o Irã como sendo parte dele, juntamente com a Coreia do Norte e o Iraque de Saddam Hussein. Mas, me perdoe por dizer, você está falando a respeito de tudo exceto o programa nuclear do Irã.

Jalili: Mas de onde vêm os temores em relação ao programa? Quem cria esse clima? A imprensa nos Estados Unidos e na Europa é irresponsável ao explorar os temores das pessoas. Pegue a suposta ameaça dos mísseis iranianos, por exemplo. Por anos, Washington queria montar um escudo de mísseis no Leste Europeu. Agora, o presidente Barack Obama determinou que a ameaça não existe e abandonou o plano do escudo antimísseis...


Spiegel: ...mas em seu lugar anunciou um sistema de defesa antimísseis móvel como alternativa.

Jalili: De qualquer forma, os europeus viram um problema desaparecer no ar da noite para o dia.


Spiegel: Grande parte da comunidade internacional acredita que o Irã perdeu esse direito ao manter sigilo sobre a existência do complexo nuclear de Natanz e ao comprar centrífugas no mercado negro.

Jalili: O que você quer dizer com comunidade internacional? Os 120 países do Movimento Não-Alinhado, que defendem os direitos do Irã, não pertencem à comunidade internacional?


Spiegel: Mas vocês não podem alegar que a Aiea está satisfeita com a cooperação do Irã. ElBaradei acabou de lembrar de novo que Teerã precisa intensificar seus esforços no sentido de uma maior transparência. Estas são suas responsabilidades.

Jalili: O que é correto é que possuímos o direito de enriquecer urânio, e nunca abriremos mão desse direito. O uso da energia nuclear deve ser garantido a todos. Ninguém deve possuir armas nucleares. O mundo precisa se mover na direção desse tipo de desarmamento, inclusive Washington. A Europa não deve ser um depósito de ogivas nucleares. Eu não entendo por que a Europa está preocupada com algumas poucas centrífugas no Irã e não a respeito das armas nucleares armazenadas na Europa.


"Nós não precisamos de uma bomba"

Spiegel: Agora o Irã conta com mais de 1.400 quilos de urânio pouco enriquecido e mais de 8.000 centrífugas. Os especialistas dizem que vocês já atingiram a "capacidade de avanço", em outras palavras, a capacidade de começar a produzir uma bomba.

Jalili: Nós não precisamos de uma bomba. Não seria legítimo e nem nos proporcionaria segurança adicional. Me permita dizer de novo: nós somos a favor do desarmamento global. Mas continuaremos a enriquecer urânio.



Confira a entrevista na íntegra:



Mais informações nos links:






*Postado por Geraldo Lavigne de Lemos e Tatiane Katie Oliveira Tokushige

Nenhum comentário:

Postar um comentário