30 de agosto de 2009

Cruz Vermelha comemora 145 anos

Neste sábado (22), a Cruz Vermelha comemorou 145 anos da assinatura de seu tratado na Convenção de Genebra. A organização, que atua na proteção humanitária e ajuda à vítimas de guerra, teve início com a indignação de um homem após ver a falta de assistência aos feridos em uma guerra do século XIX.

O ano era 1859. Uma batalha na cidade de Solferino, na Lombardia italiana, deixou 6 mil mortos e 40 mil feridos em menos de dois dias. Era a luta pela unificação da Itália e o cenário após a guerra era devastador. Os suprimentos médicos dos franceses - aliados dos sardenhos contra os austríacos - eram precários e os feridos foram obrigados a se locomoverem até o vilarejo mais próximo, em Castiglione. Apenas 9 mil conseguiram chegar vivos.

No dia em o vilarejo foi invadido pelas vítimas da batalha, um suíço chamado Henry Dunant estava chegando à região para se encontrar com Napoleão III. Quando viu a situação dos feridos, ele organizou um mutirão e conseguiu colocar a maioria em abrigos e igrejas, com a ajuda da população local.

O tempo passou e Dunant não conseguiu esquecer o que viveu em Castiglione. Em 1862 ele publicou em livro a experiência de ajudar tantas pessoas. "Memórias de Solferino" foi um grande sucesso, sendo traduzida para quase todos os idiomas europeus e lido por pessoas influentes.

Uma delas era Gustave Moynier, advogado e presidente de uma pequena entidade beneficente de Genebra. Em 1863, ele ficou maravilhado com a ideia e propôs os resultados do trabalho de Dunant para um grupo de mais três pessoas, além do próprio Dunant. Eles formaram um comitê, a princípio chamado de Comitê Internacional para Ajuda de Feridos, que depois ficou conhecido como Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

O grupo se reuniu pela primeira vez em fevereiro daquele ano e decidiu que para conseguir ajudar feridos em combate precisavam de distintivos de segurança. Meses depois, eles perceberam que precisariam reunir uma conferência internacional em Genebra para estudar medidas para superar as dificuldades de assistência médica em campos de batalha. Em outubro de 1963, o encontro teve a participação de 14 delegações de países e estabeleceu as bases para a implementação das sociedades da Cruz Vermelha em cada nação. Hoje existem pelo menos 181 escritórios reconhecidos, em quase todos os países do mundo.

Mas as regras ainda não tinham legitimidade internacional abrangente. Faltava um documento com força de lei. Foi aí que o governo suíço se encarregou de enviar uma carta-convite a todos os governos europeus, EUA, Brasil e México, para comparecer à Convenção de Genebra.

Há exatos 145 anos, um documento era assinado com regras para feridos em combates. Ali nascia a lei internacional humanitária. E a Cruz Vermelha ganha respaldo e poder para atuar.

Foi nessa época também que o emblema da cruz foi adotado. Segundo explicou Marçal Izard, responsável da entidade para assuntos latino-americanos, em entrevista ao G1, a cruz é o avesso da bandeira da Suíça "para honrar o país sede da Convenção de Genebra e porque a Suíça é considerada uma nação neutra."

Logo que passou a ser reconhecida, a Cruz Vermelha já teve trabalho. A guerra entre Áustria e Prússia em 1866 e a posterior batalha Franco-Prussiana, de 1870, fizeram com que o grupo implementasse uma agência para auxiliar as famílias de soldados feridos ou capturados.

Décadas depois, um conflito muito maior abalaria o mundo. A Primeira Guerra Mundial expandiu os trabalhos da Cruz Vermelha, que criou uma agência especial para tratar dos prisioneiros de guerra. Além de cuidar de feridos, a entidade emitia comunicados quando encontrava irregularidades e abusos. Durante a guerra, a Cruz Vermelha foi a única entidade autorizada a visitar campos pertencentes a todos os países guerreiros. Segundo Marçal Izard, em agosto de 1914, a organização internacional tinha apenas 10 membros e em outubro do mesmo ano já contava com 1000 participantes.

"A Primeira Guerra mudou radicalmente o cenário humanitário. Antes dessa guerra, a ação humanitária estava focada apenas em prover ajuda médica aos soldados nos campos de batalha e aliviar a dor dos feridos. Durante a guerra, a ajuda humanitária tentou melhorar a situação de muitas maneiras: cuidando dos mortos, apoiando quem perdeu parentes, cuidando dos presos e deportados, combatendo a miséria e a fome etc."

O conflito mundial que se seguiu à Primeira Guerra deu mais trabalho à Cruz Vermelha. Foi na Segunda Guerra que, pela primeira vez a aviação pôde bombardear o território inimigo e que, também pela primeira vez, o número de vítimas civis foi maior do que de soldados.

Os esforços da entidade para inspecionar campos alemães foram muitas vezes negados e seu trabalho em muitas áreas foi dificultado. Após a descoberta dos campos de concentração, a entidade foi muito criticada por sua não atuação para impedir o destino de milhares de mortos. "A década que seguiu à Segunda Guerra foi o período mais difícil na história da Cruz Vermelha", explica Marçal Izard.

Na época, a neutralidade da Suíça e da entidade foi posta em dúvida. Em 2005, num comunicado emitido no aniversário da libertação de Auschwitz, a organização assumiu que o campo "representou o grande fracasso da história da Cruz Vermelha, agravado pela falta de determinação em tomar atitudes para ajudar as vítimas da perseguição nazista. A falha vai permanecer na memória da instituição, assim como os atos corajosos de indivíduos de delegações da época."

Os demais conflitos ajudaram a instituição a aprimorar suas habilidades e a treinar seus voluntários e funcionários. Hoje, a Cruz Vermelha emprega cerca de 12 mil pessoas em 80 países e tem um orçamento de US$ 900 milhões.


* Postado por Lucas Mendonça

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