20 de setembro de 2009

Palmas para o Brasil no Caso Hernández!

O chileno Mauricio Hernández Norambuena, chefe da quadrilha que seqüestrou Washington Olivetto, é o inimigo público número 1 do Chile. Assassino, seqüestrador, terrorista condenado a duas penas de prisão perpétua e foragido da Justiça, ele não é uma preocupação apenas da polícia, mas um fantasma a perturbar com atos de violência o ambiente democrático e próspero em que vivem hoje os chilenos.
Então, como pode instituições internacionais criticarem o Regime Disciplinar Diferenciado adotado no Brasil para os criminosos mais perigosos, principalmente em se tratando do Maurício Hernández, que põe em xeque toda a ordem social de um país. Podemos perceber que são poucas as instituições e Estados que questionam o regime aplicado pelos EUA em Guantânamo e a execução de Saddam Hussein. Quem faz o que fez Hernández, merece este tipo de regime e muito o mais.
Vejamos o histórico de Hernández:
Segundo na hierarquia de comando da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), braço armado do Partido Comunista, Norambuena participou, de armas na mão ou como organizador, das ações mais violentas da guerrilha chilena nas últimas duas décadas. Seu grande momento foi o atentado contra o general Augusto Pinochet, em 1986. A aura de herói da luta contra a ditadura se desfez rapidamente, pois Norambuena tornou-se ainda mais violento depois da volta da democracia, em 1990. A esquerda moderada aceitou o jogo político e hoje governa o Chile. Norambuena preferiu continuar lutando para impor um regime comunista ao país.
Para demonstrar seu desacordo com a democracia recém-instalada, ele planejou minuciosamente o assassinato do senador Jaime Guzmán, morto em 1991. Guzmán tinha sido um dos principais auxiliares de Pinochet. O prontuário do Comandante Ramiro, como é geralmente chamado na FPMR (também atende por Rolando, Pepe, Avô e Pai), é interminável: inclui vários atentados que mataram militares e policiais e uma bomba no Estádio Nacional. Ele foi o cabeça de uma série de treze assaltos a banco que renderam 1 milhão de dólares. "Norambuena sempre se destacou como líder versátil, que alia a audácia à frieza das ações terroristas sem se descuidar da doutrina política de seus seguidores", diz Carlos Basso, jornalista chileno que nos últimos seis anos estudou o grupo terrorista. "Ele é frio, calculista e altamente especializado em realizar seqüestros", diz Godofredo Bittencourt Filho, diretor da Divisão Anti-Seqüestro de São Paulo, que o interrogou por cinco horas na semana passada.
No Chile, Norambuena participou do atentado contra o general Gustavo Leigh, que tinha integrado a junta militar logo após o golpe contra o presidente Salvador Allende, em 1973, e ainda comandou o seqüestro de Christian Edwards, herdeiro do jornal El Mercurio, o maior do país, que ficou cinco meses no cativeiro. Como é comum ocorrer em grupos clandestinos fechados, o líder Norambuena causa furor romântico entre suas comandadas. Nunca casou ou teve filhos e sempre foi muito discreto ao falar de seus relacionamentos amorosos. Mas teve vários casos, o mais longo por dois anos com Lorena Astorga, porta-voz da FPMR, que abandonou a luta armada e mora atualmente na Argentina, onde trabalha numa ONG.
No atentado contra Pinochet, a ação mais espetacular da FPMR, Norambuena atuou como atirador, armado com um fuzil americano M-16. O grupo emboscou a caravana de oito carros e duas motocicletas em que estava o general, numa estrada estreita próxima da capital, Santiago, no dia 7 de setembro de 1986. Dois carros bloquearam a comitiva e um terceiro fechou a retaguarda. Cercado, o comboio virou alvo fácil dos guerrilheiros, que metralharam os carros oficiais com fuzis M-16 e foguetes LOW. O motorista de Pinochet deu marcha à ré, livrou-se do carro na retaguarda e conseguiu escapar. O ditador teve apenas um pequeno ferimento na mão. Morreram dez pessoas, mas nenhum dos 25 atacantes foi ferido ou preso.
Após a morte do fundador, Raúl Pellegrín, a FPMR instalou-se na Argentina e montou uma base de treinamento na cidade de Santa Fé. Foi ali que obteve passaportes e documentos falsos para começar a agir no Brasil, abrindo um novo campo de ação para os seqüestros. Andaram na contramão do movimento normal observado entre os opositores da ditadura Pinochet. Com a transição para a democracia, muitos guerrilheiros aceitaram as novas regras do jogo e abandonaram as ações violentas. Outros, ao contrário, partiram para ações que tinham mais conotações criminosas que políticas. Essa escolha explica a existência de muitas quadrilhas ainda em atividade na América Latina. "Quando a democracia chegou, todos frearam, mas alguns, especialmente os mais jovens, não puderam parar", disse, na linguagem mais comedida possível, Iván Hernández Norambuena, irmão do seqüestrador.
Seus pais, o biólogo marinho Moisés Hernández Ponce e a advogada Laura Norambuena Casas, eram do Partido Socialista, simpatizantes do presidente Salvador Allende, que se matou quando o palácio do governo foi atacado pelos militares de Pinochet. Mauricio Norambuena é o terceiro de cinco filhos. O pai morreu em 1975 e a mãe sustentou sozinha os cinco adolescentes, enquanto representava presos políticos como advogada de direitos humanos. Os irmãos mais velhos de Mauricio entraram na Juventude Comunista e chegaram a ficar presos durante quatro meses por "subversão" com outros líderes estudantis em 1981. Mauricio, fã de Ernesto "Che" Guevara, também entrou no PC quando estudava educação física – o futuro seqüestrador até lecionou por dois anos.
Seus irmãos aproveitaram a volta da democracia, filiaram-se ao PPD, partido do presidente Lagos, e são funcionários públicos. O mais velho, Patricio, é engenheiro e trabalha na companhia estatal de mineração. Iván tornou-se funcionário da prefeitura de Viña del Mar. A irmã Cecilia é professora em uma fundação para a infância dirigida pela primeira-dama do Chile. Ao contrário do resto da família, Mauricio Norambuena optou pela clandestinidade e pela violência. Apesar de serem todos muito unidos – os irmãos moram próximos uns dos outros na divisa entre Viña del Mar e Valparaiso, a 100 quilômetros de Santiago, e se vêem diariamente –, Mauricio, a ovelha vermelha da família, foi ficando cada vez mais distante. A visita da irmã na cadeia em São Paulo, na semana passada, foi o primeiro encontro em cinco anos. É uma experiência conhecida, pois os contatos só foram periódicos enquanto Norambuena esteve detido em uma prisão de segurança máxima, entre 1993 e 1996, em Santiago.
A família o visitava todas as semanas. Aos irmãos, o condenado pedia livros de seus autores favoritos: o colombiano Gabriel García Márquez e o uruguaio Mario Benedetti. Um dos livros de cabeceira era Notícia de um Seqüestro, no qual García Márquez descreve o sofrimento de vítimas de seqüestros cometidos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O livro, em lugar de sensibilizar, parece ter incentivado o terrorista chileno. Mas do que ele mais gostava eram fitas de vídeo dos filmes do ator americano Bruce Willis. Sua preferida era Duro de Matar, na qual, ironicamente, o herói luta contra terroristas cujo mote não era a revolução, mas dinheiro. É de imaginar que o preso torcesse pelos bandidos.
Em 1993, quando foi preso, Norambuena esteve detido junto com outro dirigente de sua organização, Agdalín Valenzuela. Para sua desgraça, Valenzuela foi solto dez dias depois da prisão para cair nas mãos da própria FPMR. Teria sido melhor continuar preso. Os ex-companheiros o julgaram e condenaram num tribunal interno da guerrilha, sob a acusação de ser informante do serviço de inteligência do Exército e responsável pela prisão de Norambuena. Valenzuela foi executado em 1995 por um guarda-costas do guerrilheiro, Luís Alberto Moreno Correa, que a polícia chilena suspeita integrar o grupo que seqüestrou Olivetto. A fuga de Norambuena da prisão, no réveillon de 1996, foi hollywoodiana. Ele e outros três membros da FPMR foram resgatados por um helicóptero que lançou uma cesta blindada no pátio da cadeia. Terroristas do Exército Republicano Irlandês (IRA) tinham sido contratados para organizar a fuga.
O foragido só voltou a se comunicar com a família, por telefone, de Cuba, onde foi acolhido por Fidel Castro. Um líder histórico da FPMR, Juan Gutiérrez Fishmann, é ex-genro e pai dos netos de Raul Castro, ministro da Defesa de Cuba e, mais importante, irmão e herdeiro nomeado de Fidel. Fishmann, que foi mentor de Norambuena na clandestinidade, vive há anos em Havana. Os irmãos acreditavam que ele ainda estivesse em Cuba e foi com surpresa que souberam de sua prisão no Brasil. Não o criticam diretamente e tentam compreendê-lo. "Mauricio rejeitava a política tradicional por considerá-la corrupta e deve achar que nós somos complacentes com os partidos que apenas maquiam a realidade e não fazem a revolução", teoriza o irmão Iván. A família prefere acreditar que o seqüestro de Olivetto se destinava a financiar atividades políticas. Quem não é parente nem membro do grupo terrorista de Norambuena tende a pensar diferente: que ele aproveitou seu aprendizado na guerrilha para fazer algum dinheiro à custa do sofrimento alheio. Aliás, a razão de seu crime é o que menos interessa. O que decide a questão não é a intenção, mas o que foi realizado na prática. Sem contar sua ficha de assassino e assaltante no Chile, Norambuena cometeu um seqüestro no Brasil, o de Washington Olivetto. E ponto final. Não se deve cometer com ele o erro que o governo brasileiro, o PT e a Igreja Católica cometeram com os seqüestradores de Abilio Diniz, bajulando-os como ilustres defensores de ideais revolucionários e esforçando-se para extraditá-los para seus países de origem, onde estão livres como passarinhos.
As andanças de Norambuena são incertas. Suspeita-se que recebeu treinamento militar com os guerrilheiros comunistas em El Salvador e, talvez, na Nicarágua e em Cuba. Os chilenos acreditam que ele tem residência fixa na ilha de Fidel e mantém contato com a guerrilha colombiana. Qual deles financiou sua investida criminosa no Brasil? No site da FPMR, de Norambuena, convida-se o internauta a visitar os endereços eletrônicos de organizações amigas, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional, do México, das próprias Farc, da Colômbia, e até do ETA, os terroristas bascos da Espanha. Um esclarecedor cartão de visitas para o guerrilheiro que virou bandido.
Como não aplicar o RDD a este tipo de criminoso? Este tipo de regime foi criado exatamente para desarticular essas quadrilhas altamente organizadas, Hernández é perigoso e já fugiu de outras penitenciárias, ele possui uma imensa rede de colaboradores e a sua causa não combina mais com a conjutura atual. Palmas para o Brasil, que deve mantê-lo nesse regime o quanto for necessário.
*Postado por LUCAS NOGEUIRA E FERREIRA*

Nenhum comentário:

Postar um comentário